domingo, 23 de maio de 2010

Cancro do Colo do Útero


O colo do útero faz parte do aparelho reprodutor feminino. É a parte inferior e mais estreita do útero (“ventre”). O útero é um órgão oco, em forma de pêra, situado no abdómen inferior. O colo do útero liga o útero à vagina que, por sua vez, conduz ao exterior do corpo.
O cancro do colo do útero localiza-se no cérvix – a zona inferior do útero que o liga à vagina.Apesar do rastreio para a sua detecção numa fase inicial, o cancro do colo do útero permanece a segunda maior causa de morte (a seguir ao cancro da mama) entre mulheres jovens (idades compreendidas entre os 15 – 44), na Europa .Na Europa, são anualmente diagnosticados cerca de 33.500 cancros do colo do útero e 15.000 mulheres morrem em consequência da doença por ano (o equivalente a 40 mulheres por dia e duas mulheres por hora).



Factores de risco:



Nem sempre se consegue explicar por que é que algumas mulheres desenvolvem cancro do colo do útero e outras não. Contudo, sabe-se que uma mulher com determinados factores de risco está mais predisposta do que outras a desenvolver cancro cervical. Um factor de risco é algo que aumenta a possibilidade de se vir a desenvolver a doença. Estudos efectuados identificaram alguns factores que podem aumentar o risco de desenvolver cancro do colo do útero. Quando presentes em simultâneo, estes factores aumentam ainda mais o risco:



- Vírus do papiloma humano (HPV): a infecção por HPV é o principal factor de risco para o cancro do colo do útero. O HPV é um conjunto de vírus que pode infectar o colo do útero. As infecções por HPV são muito frequentes. Estes vírus podem ser transmitidos de pessoa para pessoa através de contacto sexual, sendo que a maioria dos adultos já foi num dado momento da sua vida infectada com HPV. Alguns tipos de HPV podem provocar alterações nas células do colo do útero, alterações essas que podem originar verrugas, cancro e outras complicações genitais. Os médicos devem verificar se há sinais de HPV, mesmo que não existam verrugas ou outros sintomas. Se uma mulher tiver uma infecção por HPV, o médico pode sugerir algumas formas de evitar o contágio a outras pessoas. O exame de Papanicolau pode detectar alterações nas células do colo do útero causadas por HPV.O tratamento destas alterações celulares pode evitar o desenvolvimento de cancro do colo do útero. Existem vários métodos de tratamento, designadamente congelar ou queimar o tecido infectado. Pode também ser utilizada medicação.



- Não realizar o exame de Papanicolau regularmente: o cancro do colo do útero é mais frequente em mulheres que não realizam periodicamente o exame de Papanicolau. Este exame possibilita a detecção de células pré-cancerígenas. O tratamento das alterações cervicais pré-cancerígenas previne, muitas vezes, o desenvolvimento de cancro.



- Sistema imunitário enfraquecido (o sistema de defesa natural do organismo): as mulheres infectadas com VIH (o vírus que provoca SIDA) ou sob medicação inibidora do sistema imunitário, apresentam risco aumentado de desenvolver cancro do colo do útero. Nestas mulheres, os médicos recomendam o rastreio regular do cancro do colo do útero.



- Idade: o cancro do colo do útero ocorre com maior frequência a partir dos 40 anos de idade.



- História sexual: as mulheres que tenham tido muitos parceiros sexuais apresentam risco aumentado para o desenvolvimento do cancro do colo do útero. As mulheres que tenham tido relações sexuais com homens que, por sua vez, tenham tido muitas parceiras sexuais, apresentam também maior risco de desenvolver cancro do colo do útero. Em ambos os casos, o risco é acrescido, uma vez que estas mulheres têm maior risco de infecção por HPV.



- Tabagismo: as mulheres fumadoras com infecção por HPV apresentam um risco acrescido de desenvolver cancro do colo do útero.



- Tomar a pílula durante longos períodos de tempo: tomar a pílula durante longos períodos de tempo (5 anos ou mais) pode aumentar o risco de desenvolver cancro do colo do útero, em mulheres infectadas por HPV.



- Ter muitos filhos: estudos efectuados sugerem que as mulheres infectadas por HPV que tenham muitos filhos, podem apresentar risco acrescido para o desenvolvimento de cancro do colo do útero.




Sintomas:

As alterações pré-cancerígenas e os cancros precoces do colo do útero não tendem a provocar dor ou outros sintomas. É importante não esperar até surgirem dores para consultar o médico.
Quando a doença se agrava, a mulher pode apresentar um ou mais dos seguintes sintomas:


- Hemorragia vaginal anormal


-Hemorragia entre períodos menstruais regulares.


-Hemorragia após relação sexual, irrigação vaginal ou exame pélvico


Períodos menstruais mais prolongados e intensos do que anteriormente
Hemorragias após a menopausa


- Aumento do corrimento vaginal


- Dor pélvica


- Dor durante as relações sexuais



Causas:

Ao contrário de muitos outros cancros, a principal causa do cancro do colo do útero não é hereditária. De facto, a causa desta forma de cancro é sempre um vírus. Este vírus é o chamado Papilomavírus Humano que consegue transformar as células do colo uterino, provocando lesões, que em alguns casos progridem para lesões cancerosas. Existem vários tipos de Papilomavírus Humano. A maioria são inofensivos, mas outros podem ser bastante perigosos para a saúde humana, como os que estão na origem do cancro do colo do útero.



Prevenção/Detecção:



O rastreio é fundamental para detectar alterações cervicais antes da manifestação de sintomas. O rastreio permite ao médico detectar células anómalas antes do cancro se desenvolver. A identificação e o tratamento de células anómalas pode prevenir a maioria dos cancros cervicais. O rastreio pode, também, ser útil para detectar cancros precoces, numa altura em que o tratamento tem maior probabilidade de ser eficaz.
Nas últimas décadas, o número de casos de cancro do colo do útero diagnosticados anualmente tem vindo a diminuir, fenómeno que se deve, sobretudo, ao sucesso do rastreio.
Os médicos recomendam às mulheres que efectuem regularmente o exame de Papanicolau, de forma a reduzir o risco de desenvolver cancro do colo do útero. O exame de Papanicolau (por vezes designado por esfregaço Papanicolau ou esfregaço cervical) é um procedimento simples utilizado para analisar as células cervicais que, em geral, não é doloroso. O exame de Papanicolau realiza-se num consultório médico ou clínica, durante o exame pélvico. O médico ou a enfermeira recolhe (“raspa”) uma amostra de células do colo do útero, colocando-as, posteriormente, numa lâmina de vidro (esfregaço). Num tipo novo de exame de Papanicolau (citologia líquida), as células são mergulhadas num pequeno recipiente com líquido; um aparelho especial coloca as células nas lâminas. Nos 2 tipos de exame de Papanicolau, o laboratório analisa ao microscópio as células nas lâminas para detecção de quaisquer anomalias.

Os exames de Papanicolau podem detectar cancro do colo do útero ou células anómalas, que podem levar ao desenvolvimento deste tipo de cancro. Por isso:


- As mulheres devem começar a realizar o exame de Papanicolau 3 anos após terem iniciado a sua actividade sexual ou aos 21 anos (o que ocorrer primeiro).


- A maioria das mulheres deverá realizar um exame de Papanicolau, pelo menos, de 3 em 3 anos.


- As mulheres com idades compreendidas entre os 65 e os 70 anos e que, durante os últimos 10 anos, tenham realizado pelo menos três exames de Papanicolau com resultados normais e nenhum exame com alterações, podem decidir, depois de abordar a questão com o seu médico, deixar de realizar o rastreio do cancro do colo do útero.


- As mulheres que tenham sido submetidas a histerectomia (cirurgia) para remoção do útero e do colo do útero, também designada por histerectomia total, não necessitam de realizar o rastreio do cancro do colo do útero. Contudo, se a cirurgia tiver constituído um tratamento para células pré-cancerígenas, deve-se continuar a realizar o rastreio. As mulheres devem falar com o médico sobre quando começar a realizar o exame de Papanicolau, a sua frequência e quando podem deixar de o fazer. Isto é particularmente importante para mulheres com risco aumentado para o desenvolvimento de cancro do colo do útero.





Diagnóstico:



Se uma mulher apresentar um dos sintomas típicos ou um resultado do exame de Papanicolau que possa sugerir a presença de células pré-cancerígenas ou de cancro do colo do útero, deverá fazer:



- Colposcopia: utilização de um colposcópio para analisar o colo do útero. O colposcópio associa uma luz brilhante a uma lente de aumento para facilitar a visualização do tecido. Não é inserido na vagina. Em geral, a colposcopia realiza-se num consultório médico ou clínica.


- Biópsia: o médico recolhe tecido para proceder à pesquisa de células pré-cancerígenas ou cancerígenas. A maioria das biópsias são feitas no consultório médico mediante anestesia local. Posteriormente, o tecido será examinado por microscopia por um patologista.


Biópsia por punção: o médico utiliza um dispositivo oco e afiado para retirar pequenas quantidades de tecido cervical.


LEEP: o médico utiliza um fio eléctrico com laço para cortar uma porção fina e arredondada de tecido.


Curetagem endocervical: o médico utiliza uma cureta (pequeno instrumento em forma de colher) para raspar uma pequena amostra de tecido do canal cervical. Pode utilizar-se uma escova fina e macia em vez da cureta.


Biópsia em cone: o médico recolhe uma amostra de tecido em forma de cone. A biópsia em cone, ou conização, permite ao patologista observar se existem células anómalas no tecido abaixo da superfície do colo do útero. Este exame pode ser feito no hospital mediante anestesia geral. A biópsia em cone pode ainda ser utilizada para remover uma zona pré-cancerígena.

A remoção de tecido do colo do útero pode provocar hemorragia ou corrimento. Regra geral, a zona cicatriza rapidamente. A mulher pode sentir alguma dor, semelhante às dores menstruais, e desconforto que é possível aliviar com medicação.




Tratamento:



A escolha do tratamento depende sobretudo da dimensão do tumor e da sua possível disseminação. Para uma mulher em idade fértil, a escolha do tratamento pode ainda depender da sua intenção, ou não, de engravidar.
O médico poderá descrever-lhe as opções de tratamento e os resultados esperados para cada um deles. O médico e o doente podem trabalhar em conjunto no desenvolvimento de um plano terapêutico adaptado às necessidades médicas e aos valores pessoais do doente.
As mulheres com cancro do colo do útero podem ser tratadas através de cirurgia, radioterapia, quimioterapia, radioterapia com quimioterapia ou uma combinação dos três métodos.
Em qualquer estádio da doença, as mulheres com cancro do colo do útero podem ser medicadas no sentido de controlar a dor e outros sintomas, para aliviar os efeitos secundários dos tratamentos e para atenuar problemas práticos e emocionais. Este tipo de tratamento é designado por cuidados de suporte, gestão dos sintomas ou cuidados paliativos.

Cirurgia
A cirurgia trata o cancro localmente, no colo do útero e na área adjacente ao tumor.
A maioria das mulheres com cancro do colo do útero precoce é submetida a cirurgia para remover o colo do útero e o útero (histerectomia total). Contudo, em estadios de evolução muito precoces (estadio 0) de cancro do colo do útero, pode não ser necessário realizar uma histerectomia. Entre outras formas de excisão do tecido cancerígeno contam-se a biópsia core, a criocirurgia, a cirurgia laser ou LEEP.
Algumas mulheres necessitam de efectuar uma histerectomia radical. Na histerectomia radical é removido o útero, o colo do útero e parte da vagina. Tanto na histerectomia total como na histerectomia radical, podem remover-se as trompas de Falópio e os ovários. A este procedimento dá-se o nome de salpingo-ooforectomia.


Radioterapia
A radioterapia (terapia por radiação) utiliza raios de alta energia para matar as células cancerígenas, afectando apenas as células da região tratada.
As doentes podem ser submetidas a radioterapia, radioterapia com quimioterapia ou quimioterapia com cirurgia. Para um pequeno número de mulheres que não possam ser submetidas a cirurgia por motivos clínicos, o médico pode sugerir a radioterapia como alternativa à cirurgia. A maioria das mulheres com cancro disseminado é submetida a radioterapia com quimioterapia. Para cancros que atingiram órgãos distantes, apenas a radioterapia é eficaz.

Quimioterapia
A quimioterapia utiliza fármacos anti-neoplásicos para matar as células cancerígenas. É considerado um tratamento sistémico, uma vez que os fármacos entram na corrente sanguínea e afectam as células de todo o corpo. No tratamento do cancro do colo do útero é usual combinar a quimioterapia com a radioterapia. Em cancros que se disseminaram para órgãos distantes pode utilizar-se apenas quimioterapia.
Os fármacos anti-neoplásicos usados no tratamento do cancro do colo do útero são geralmente administrados por via intravenosa. Regra geral, as mulheres são submetidas ao tratamento no hospital em regime de ambulatório, no consultório médico ou em casa. Durante o tratamento, as doentes raramente necessitam de ser hospitalizadas.

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